Lucas Tinôco. Twitter: @lucastinocof
ATENÇÃO: ESSE TEXTO FOI ESCRITO ANTES DO FLAMENGO ANUNCIAR A CONTRATAÇÃO DE JORGE JESUS COMO NOVO TREINADOR DA EQUIPE. PREFERI NÃO FAZER ALTERAÇÕES COM O INTUITO DE NÃO DIFICULTAR O ENTENDIMENTO.
A diretoria rubro-negra está em Madri tratando de possíveis novos reforços e também de um novo treinador, após a saída de Abel Braga. Também na capital espanhola, haverá a grande final da Liga dos Campeões, que terá como um dos participantes o Liverpool, cujo dono deu uma entrevista que poderia…bem…cair nos ouvidos dos mandatários rubro-negros.
A Fenway Sports Group (FSG), comprou os Reds em 2010, após os donos anteriores terem se tornado extremamente impopulares para o torcedor. Desde então, os também donos do Boston Red Sox trouxeram novos ares à Anfield e, com um investimento contínuo e total respeito às raízes e tradições do clube, se tornaram queridos pelos “supporters”. Em entrevista realizada nesta sexta-feira (31) John Henry, principal proprietário do clube inglês, elogiou a escolha por Jurgen Klopp como treinador – que teve o seu aval – e também sobre os atletas que os vermelhos têm contratado.
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“Ele também fez a escolha certa! A personalidade dele e o tipo de futebol que ele quer jogar foram a combinação perfeita [com o Liverpool FC]”, disse Henry. A fala dele trata sobre DNA e como as escolhas de um dono, seus diretores e manager devem respeitar uma filosofia. Liverpool é loucura, euforia, e Klopp é o encaixe perfeito. Não foi uma escolha à toa. O mesmo acontece nas escolhas do comandante alemão com seus jogadores. Seus atletas têm sempre que se doar ao máximo, jogando um futebol que case com as raízes do clube.
Neste ano, o Liverpool de Klopp chega à sua segunda final de Liga dos Campeões consecutiva. Além disso, somou 97 pontos no Campeonato Inglês, perdendo o título por apenas um ponto para o Manchester City de Pep Guardiola. Este é o quarto ano do alemão no comando dos Reds, nenhum título foi conquistado e mesmo assim a torcida o apoia incondicionalmente.
Trata-se de boas escolhas, coisa que o Flamengo não tem feito tão bem. As contratações para o comando do clube nos últimos anos vão na mão contrária ao seu DNA. A última delas, de Abel Braga, se mostrou falha desde o início. Identificado com um grande rival, estilo de jogo retraído e constante complacência com os maus desempenhos “fritaram” o medalhão em 5 meses de trabalho.
Engana-se, no entanto, quem pensa que o problema só está no treinador. O elenco recheado e poderoso do rubro-negro contém diversos perfis diferentes. Têm os que gostam de serem mimados e os que odeiam paparicagem. Têm os que correm por todos em campo e os que andam. A falta de perfis semelhantes fez com que o clube do “deixou chegar” se tornasse o do “cheirinho”, e aquele DNA rubro-negro hoje só existe na lembrança e nos gritos raivosos do torcedor.
Para o futuro, o Flamengo tem que contratar um treinador que reclame do passe errado, que não ache comum ser derrotado mesmo que contra um time mais forte e jogando como visitante, que barre quem não dá o sangue e que prefere criar rixa entre comandante e comandados. Mais do que isso: que ele tenha tempo e respaldo para criar uma atmosfera agradável e pulsante, como Klopp tem feito com o Liverpool. Seja ganhando ou não títulos. Seja gastando muito ou pouco. Alguém com o tão sonhado DNA rubro-negro vai ter o apoio da Nação.
E que seja estrangeiro…
No Brasil a formação de novos treinadores tem se mostrado fraca, com raras exceções que precisam de apoio e paciência jamais vistos no futebol nacional. A pressão é necessária, mas ela em excesso é prejudicial. O torcedor precisa cobrar por desempenho antes do resultado.
Fernando Diniz é um exemplo, quer você goste ou não do estilo de jogo dele. Se aperfeiçoou e apanhou muito até chegar no Fluminense colocando em prática um futebol mais vistoso e com pouco espaço para erros. O problema é a falta de peças, mas essa também é a solução. Sem um time tão badalado, as expectativas são menores e o tempo para desenvolver um trabalho interessante aparece.
O fato de Diniz ter aprendido com os seus erros já o diferencia dos medalhões. O mesmo acontece com Roger Machado, que depois de um ótimo início no Novo Hamburgo e Grêmio, não conseguiu desenvolver Palmeiras e Atlético-MG. Hoje em um time de massa, mas talvez sem tanta pressão, vem fazendo o Bahia jogar um futebol interessante.
Mas como disse… Raras exceções!
Cá preferem o medalhão para, como um grande amigo me disse, “servir de escudo das críticas”. A escolha por Abéis, Luxemburgos e Felipões se dá pelo fato de que os olhares automaticamente passam da escolha da diretoria para a escolha dos experientes treinadores. E eles falham. Podem até conquistar títulos, mas falham.
O pragmatismo é o maior dos malefícios. Times mal treinados, sem variações e criatividade. Com o mesmo tipo de jogo para enfrentar o último e o primeiro colocados.
É por esse péssimo mercado que treinadores espontâneos e autênticos como Sampaoli chamam tanta atenção. E nem é tão difícil. Nem precisa mostrar muito, mas só algo de diferente.
Sem treinador o Flamengo ganhou especulações de Eduardo Coudet, Sebastián Beccacece e Jorge Jesus. Há divergências quanto aos preços, métodos de treino e estilos de jogo, mas qualquer um dos três causaria impacto imediato no Brasil.
Principal nome entre os especulados, Jorge Jesus já mostrou ter o tal DNA rubro-negro. Exaltando a história e grandeza do clube, o treinador, que colocou o Benfica de volta aos trilhos de 2009 à 2015 (e seu trabalho perdura mesmo 4 anos depois), é obcecado por vitórias. “A prioridade é ter equipes que me possam proporcionar ganhar títulos, como é o caso do Flamengo. O que disse foi sempre que só aceitava equipes que disputassem títulos, o Flamengo disputa títulos e até posso disputar a final do campeonato do Mundo”, disse o português.
O discurso gera o entendimento de que nada deve ser obstáculo para um time como o Flamengo na sua incessante busca por títulos. Nem jogadores ruins, nem adversários, nem o estádio desses adversários. Uma diferença gritante para o último comandante do Flamengo.
Portugal, aliás, tem uma das mais respeitadas escolas de treinadores do mundo. O impacto que um Jorge Jesus causaria no Flamengo e no Brasil como um todo vai muito além do que o seu especulado salário de 1,5 milhão de reais por mês. O Flamengo pode pagar. Faço das minhas as palavras de Leonardo Bertozzi, comentarista da ESPN Brasil:
“Eu acho o Jorge Jesus um treinador excelente. Tem outros que gosto, como Beccacece e Ariel Holán. Mas Jorge Jesus é de outro calibre. É um treinador que já esteve na mira de PSG e Milan. Se cabe no orçamento, faz o investimento. Clube não é banco.”.
Jorge Jesus poderia falhar miseravelmente no Flamengo? Poderia sim. Contudo, seu impacto imediato tiraria os pragmáticos treinadores brasileiros da sua zona de conforto. Precisaria de paciência, tal qual Klopp e Pochettino vêm tendo em Liverpool e Tottenham respectivamente.
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