Terá o milionário, quase galáctico plantel rubro-negro capacidade de aplacar a sede de glórias de sua indomável Nação?
Saudações flamengas a todos,
O Flamengo derrotou o simpático Boavista por 3-1, em uma partida onde, não fossem os vinte minutos finais, em que a qualidade do futebol apresentado melhorou brutalmente após as entradas de Everton Ribeiro, Uribe e Bruno Henrique no lugar dos inoperantes Jean Lucas, Henrique Dourado e Vitinho, teríamos a repetição do script vivenciado nas três rodadas anteriores, em que o rubro-negro, apresentando um jogo coletivo pouco mais que sofrível, valeu-se da qualidade individual de suas peças para se impor a adversários nitidamente inferiores (ou nem isso, haja vista o empate contra o Resende).
Diante de tão pálidas exibições, e deixando de lado as verdades prontas estabelecidas nesses tempos de veredictos irretorquíveis, cumpre indagar: qual a perspectiva desse Flamengo de 2019? Terá o milionário, quase galáctico, plantel rubro-negro capacidade de aplacar a sede de glórias de sua indomável Nação? Ou o evidente desequilíbrio (ainda) percebido em sua formação cobrará seu preço lá na frente?
Retrocedendo a 2011, Vanderlei Luxemburgo, após penar no ano anterior para salvar, a duras penas, o Flamengo de um rebaixamento que pareceu mais palpável do que sugere a posteridade, enfim recebeu jogadores de qualidade compatível com a de um elenco capaz de reivindicar protagonismo. Mesmo assim, o Bonde Sem Freio de Ronaldinho Gaúcho, Thiago Neves, Deivid, Maldonado, Ronaldo Angelim, Felipe e Leonardo Moura sofreu com pesadas críticas ao futebol apresentado nas rodadas iniciais da Taça Guanabara. Equipe engessada, lenta, de pouca criação, vivendo dos lampejos de Ronaldinho e da correria de Thiago Neves. Time com um sistema defensivo confuso e vulnerável, muito por conta das lambanças do inseguro zagueiro Wellinton. Treinador que insistia em manter intocável o volante Renato Abreu, que parecia deter vaga cativa na escalação, mesmo apresentando um futebol muito distante daquele que o notabilizou na primeira passagem pelo rubro-negro, alguns anos antes. Críticas que não cessaram nem mesmo após a conquista, invicta, do título daquele que talvez tenha sido o último Estadual de bom nível da história do futebol do Rio de Janeiro (no Brasileiro, o Vasco, que ganhou a Copa do Brasil, acabou sendo o vice-campeão, o Fluminense o terceiro colocado e o Botafogo, o nono). Pois, o Flamengo que Luxemburgo montou no Estadual acabaria sendo o time de mesmo futebol apresentado ao longo de toda a temporada (com alguns reforços chegados no meio do ano). Uma equipe que praticava um jogo pragmático, quase sólido, onde o brilho dos talentos individuais se mostrava suficiente para a conquista de resultados. Um time competitivo, de futebol pouco ou nada vistoso (salvo um ou outro momento específico, como os 5-4 sobre o Santos, ou as goleadas sobre Cruzeiro e Atlético-MG), mas capaz de ganhar títulos e que somente não se tornou postulante mais sério para vencer o Brasileiro (que terminou em quarto lugar) por conta de problemas extracampo que cobraram seu preço em um momento particular da trajetória.
Mas da mesma forma que o jogo pálido apresentado no início de 2011 era, na verdade, o arcabouço de uma equipe talhada a jogar feio mas fazer o resultado, também se pode pinçar o começo da temporada de 2016, em que outro treinador experiente e vitorioso, Muricy Ramalho, recebeu a incumbência de montar uma equipe inteiramente nova para o Flamengo. Vários e vários reforços desembarcaram no Ninho do Urubu (Muralha, Rodinei, Juan, Willian Arão, Cuellar, Mancuello, entre outros menos cotados), integrando-se a um plantel marcado pelo melancólico desfecho do ano anterior. No entanto, Muricy jamais conseguiu trazer equilíbrio a uma equipe que sofria muitos gols e se ressentia de absoluta fragilidade em seu sistema defensivo. Também era tida como previsível e pouco produtiva, apesar de construir algumas goleadas contra equipes mais fracas do Estadual. As fortes críticas ao trabalho de Muricy, que tentava, sem sucesso, trazer um verniz mais ofensivo ao seu perfil notadamente pragmático, acabaram por se mostrar procedentes ao longo do semestre. Com efeito, o Flamengo sucumbia à menor dificuldade, independente do nível do adversário. Derrotas vexatórias para Confiança, Fortaleza e Volta Redonda, além da eliminação da Primeira Liga para o Atlético-PR, minaram a confiança no trabalho de Muricy (cuja insistência em jogadores como Paulo Victor e Wallace, que apresentavam falhas jogo sim, jogo também era metralhada diariamente nas redes sociais). A equipe somente conseguiu vencer um dos seis clássicos disputados no Estadual. E restou categoricamente eliminada da Copa do Brasil, do Estadual e da já citada Primeira Liga. Contudo, quando o questionamento à continuidade de Muricy no cargo de Treinador do Flamengo começava a ganhar corpo, veio a doença que o afastou em caráter irreversível, encerrando uma trajetória infrutífera e mal-sucedida.
Ainda é cedo para saber se o Flamengo de Abel se aproximará, ou mesmo superará, os resultados do pragmático time de 2011, ou se sucumbirá como o de 2016. Nesse caldo há que se ponderar o nível dos jogadores, o desempenho coletivo das equipes, a insistência com determinadas convicções, enfim.
Abel Braga não foi contratado para fazer o Flamengo jogar bonito. Não foi chamado para montar equipes de primorosa movimentação ou organização tática, tal qual estamos acostumados a ver nas champions leagues ou premier leagues da vida. Não chegou para revolucionar nada, para trazer rigorosamente nada de novidade. Abel Braga veio para ganhar jogos e taças. Nem que para isso seja necessário alçar lateral na área. Abel veio para ganhar de 1-0, passando rigorosamente o mesmo tipo de dificuldade, do Madureira e do Palmeiras. Do Bacaxá e do Boca Juniors.
A despeito da retórica, não será fácil. Nada fácil.
Principalmente a se insistir com o que se dispõe, hoje, de volantes.
Boa semana a todos.
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