Não vou explicar aqui por que o Flamengo é o legítimo vencedor do Campeonato Brasileiro de 1987. Quem quiser saber a respeito pode ler o livro de Pablo Duarte Cardoso, autor de um dos maiores documentos a respeito do assunto, ao qual tivemos a honra de entrevistar. Para os que têm pressa ou não são muito adeptos de grandes leituras, vale assistir ao já clássico vídeo do Juca Kfouri que deixarei para todos ao final deste artigo.
Agora vamos aos fatos prementes que me estimularam a voltar a este assunto. Na véspera do início do Brasileirão 2022, o Jornal Nacional, maior telejornal brasileiro, fez a obrigatória matéria promovendo a competição que vai começar. Ao listar os maiores times campeões, o repórter disse, e a tabelinha gráfica exibida na tela corroborou, que o Palmeiras tem dez títulos, o Santos oito e o Flamengo… sete!
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Ou seja, os títulos da Taça Brasil e do Robertão ganhos ainda na década de 1960, quando não existia sequer uma competição nacional oficial, foram considerados, mas o legítimo título da Copa União, o verdadeiro Campeonato Brasileiro de 1987 daquele ano, não foi.
Segunda rodada do Brasileiro 2022. Flamengo 3×1 São Paulo, fim de partida no Maracanã. Após o excelente jogo contra o Tricolor Paulista, o maior traidor dessa história, diga-se de passagem, João Gomes, eleito o melhor em campo, concede entrevista ao repórter pernambucano da Globo André Galindo.
Com a repercussão da entrevista à beira do gramado, em que João Gomes não consegue respondê-lo – por conta da gagueira somada à emoção da lembrança do seu avô que o repórter evocou na pergunta – Galindo postou uma foto onde fazia um chamego no volante rubro-negro. Nada demais. Sim, até aí tudo bem.
O problema é que André Galindo escreveu um livro inteiro abordando a “questão de 87”. O livro chama-se 1987 – De Fato, de Direito e de Cabeça. Uma peça de ficção, provavelmente encomendada pela diretoria do Sport, mas aí confesso ser especulação minha. Ver aquela postagem (abaixo) me deu um certo desconforto. Ali na nossa felicidade tinha um cínico intruso. Achei por bem alertar ao João, rubro-negro de nascença, que ali estava alguém que destorce fatos e produz fake news.
O assunto dominou minha rede social preferida com a mesma força com que o Sport cai recorrentemente para a segunda divisão, como aconteceu em 1986, inclusive. Como jornalista e editor-chefe de um site com milhares de visualizações exijo de Galindo uma resposta decente sobre o assunto. Como torcedor não quero vê-lo mais atrelado ao clube, junto dos nossos – é primitivo e feio, eu sei, mas ataca minha gastrite nervosa.
Peço aos dirigentes rubro-negros que diplomaticamente negociem com a emissora, parceira comercial e cultural do clube há décadas, pelo zelo a uma relação saudável e de respeito, que retire Gallindo das coisas flamengas. Ele devia estar cobrindo o Sport ou qualquer outro clube, menos o Flamengo por questões éticas. Há conflito.
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O debate sobre se isto é censura é bastante conceitual. Nada na vida é preto no branco. Temos uma imensa zona cinza a se percorrer nesta questão. Não quero censurar a TV Globo no Ninho, por Zico! Não quero o mal profissional do rapaz, por favor! Quero apenas que ele seja feliz, vestindo seu véu de ignorância ou atrás da cortina da desinformação que explora, que seja. Mas que seja bem longe do Flamengo.
Repito sempre: quem conhece a história e defende o Sport não tem caráter. É um sarrafo moral mesmo. Em um Brasil tomado pelo fascismo, onde o revisionismo histórico atende aos interesses mais escusos, “87 é do Sport” pode parecer uma bobagem infantil, mas não é. Essencialmente essa história toda é o suco podre do Brasil, uma trama cheia de politicagem, traição, intrigas, desrespeito com o povo, manobras jurídicas e tentativa de apagamento da nossa história, do que vivemos.
Campeonato Brasileiro de 1987: veja a entrevista com Pablo Duarte Cardoso
Juca Kfouri explica 1987
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Diogo Almeida é editor do Mundo Rubro Negro. Gosta de escrever teses não convencionais sobre o Flamengo. Siga no Twitter.